quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Pensando alto

Fartei-me,
por favor, dê-me um tempo
de suas profecias trágicas.

Cansei-me,
por favor, deixe-me ouvir
apenas algumas palavras mágicas.

Quero ouvir apenas uma vez,
com um sorriso radiante,
que ainda dá tempo,
que podemos tentar de novo.

Vou revirar todos os livros da estante
atrás de alguma idéia restante,
mesmo incipiente,
mas que não foi tentada antes.

Não quero mais sentir o gostinho amargo
do que vem pela frente,
eu quero um amigo,
um abraço quente.

Não consegue ver
no fundo dos meus olhos
as lágrimas penduradas
por um resto de orgulho?

Meus olhos, secos,
já não se lembram do seu rosto,
mas por favor,
eu sei que ainda dá tempo.

Me espere.

sábado, 1 de novembro de 2008

Alma

Minhas pernas finas e despidas estão também frias. Minha pele, cor de mogno, herdei de uma árvore de 150 anos. Sim, sou uma mesa de jantar, estilo vitoriano, comprada num mercado de pulgas com 60% off. Você deve estar se imaginando como uma mesa consegue pensar e transmitir pensamentos, afinal, sou apenas uma parte da mobília, assim como o sofá e as cadeiras, que por sinal, não pensam. Porém, pasme, eu penso. Talvez eu seja dotada de consciência, um cérebro... Não, eu não possui órgãos, apenas minhas pernas que não me servem nem como locomoção. Espiando alguns livros abertos sobre mim, li algo sobre "almas". Dizia que ela é algo além do material, é o que faz algo inanimado se mover. E foi aí que eu me reconheci. Quem diria, uma mesa portadora de alma pode compartilhar sentimentos humanos, quando alguém vem chorar sobre minha madeira eu me comovo, quando riem à mniha volta eu me alegro. Qual seria o motivo para eu ter ganho tão maravilhoso presente? Por que eu existo? Me recuso a ceitar que minha função aqui é apenas servir de apoio a objetos sem vida. Mas então por que?