sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Solidão

Era a última. Pronto. E saiu depressa, no carro, suas mãos agora trêmulas e vermelhas mal conseguiam conter sua ansiedade ao volante. "Agora vai ficar tudo bem." No banco dos passageiros, 1000 aves brancas de papel sacolejavam como se estivessem preparando-se para levantarem vôo.
Chegara ao hospital, à porta do quarto hesitou, mas com suas mãos calejadas e cheias de finos cortes abriu a porta. E ali estava ela, adormecida. Rapidamente, pousou as aves sobre o leito, sentou-se em uma cadeira ao canto, e ali ficou, torcendo. "Vai dar tudo certo não se preocupe". Sozinhos no mundo, só tinham um ao outro para acompanhar, ninguém poderia interferir nesse elo inquebrável.
O silêncio continuava. E se estendia pelas paredes brancas do quarto do hospital até as nuvens no céu. Expectativa contida.
Houve um clarão, e um vulto surgiu. Da cadeira ao canto levantou-se com um salto. "Não! Ela não vai embora!" A sombra respeitando o silêncio, apenas continuou seu caminho, dirigindo-se à jovem adormecida. Passara por cima das aves, amassando-as com seus passos pesados. "Mas eu fiz conforme o combinado! Meu esforço não conta? Veja minhas mãos. Veja!" Contrastando com a brancura da construção, suas mãos ganhavam um tom escarlate, que tomou conta do local. Acabou.
E ao horizonte podia-se ver um bando de pássaros brancos, exaltando um canto melancólico. Uma andorinha só não faz verão.

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